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Elizabeth, uma mulher idosa

Atualizado: 3 de dez. de 2019






"Foi meu primeiro namorado. Foi meu primeiro em tudo"



A partir dos 70 anos, a quilometragem percorrida em viagens aumentou de um modo jamais visto ao longo da vida, tudo isso, devido a participação em um programa de terceira idade. Hoje, com 77 anos, Elizabeth - nome fictício -, coleciona fotografias e muitas histórias das aventuras dos últimos anos. Viúva e pensionista, ela decidiu que não permaneceria em casa durante “a melhor idade”, como é tratada a terceira idade, pois já passou por uma forte depressão durante os anos 80 e não quer retornar para essa fase da vida. Manter a agenda cheia de compromissos e não ter tempo de descanso, faz dela uma jovem senhora.


A participação no grupo iniciou quando ainda era casada, porém, sempre ia sozinha aos encontros. Ela reside em Frederico Westphalen/RS e diz estar muito bem com a rotina cheia, que leva todos os dias. Nesta reportagem, Elizabeth preferiu não se identificar e o tabu que a cerca, fez tomar essa decisão. O medo com o que outras pessoas pensariam sobre participar de um trabalho que trata sobre sexo e sexualidade causou certa restrição, apesar da iniciativa própria de abordar o tema.


Depois de casada saiu da roça para a cidade grande e nesse tempo, percebeu como seria difícil a adaptação em Frederico Westphalen, pois, o preconceito sofrido pela sua etnia, era muito forte para Elizabeth e os seus cinco filhos, entre eles, de sangue e coração. A vida nova não seria fácil, mas pouco a pouco a família foi superando os obstáculos impostos e conseguiu se inserir na sociedade frederiquenses.




O tabu em casa

Quando questionada sobre sua criação, Elizabeth revela que a sexualidade não era assunto tratado em casa e, até mesmo, com as amigas casadas que tinha.


— Eu casei em 64, tinha 22 anos. Nunca tive namorado, foi meu primeiro em tudo. Depois do casamento que descobri como era um homem adulto, porque a gente nunca conversava sobre isso. Eu tinha muitas amigas casadas, mas a gente nunca conversava sobre sexo, — conta Elizabeth.


Diferente da sua adolescência, ela conta que buscou tratar sobre esse tema de um modo diferente com os filhos. Conversava mais com as meninas do que com os meninos, pois eles sempre buscavam um jeito de fugir do assunto. Hoje, Elizabeth afirma que os jovens acabam descobrindo tudo por conta, nem sempre com instruções corretas, mas nas rodinhas de amigos, o assunto já é pautado entre a garotada.


— Eu acho que tem que falar hoje em dia, eu não tive a oportunidade, ninguém me explicou nada e realmente, acabei casando muito inocente. A primeira conversa deve ser em casa, os pais explicarem, porque se ficam sabendo por meio de outras pessoas, não se previnem e não se cuidam corretamente —, ressalta.




A sexualidade na terceira idade

Participar de um grupo de terceira idade proporcionou, além da convivência com outras pessoas da sua idade, um aumento na qualidade de sua saúde, por meio da prática de esportes, viagens e, palestras. Isso porque a informação trazida pelos especialistas, agrega muito valor a vida e as percepções dos idosos.


— Eu estou sempre envolvida com alguma coisa, eu não paro. Assim, fui conhecendo e fazendo amizades, até não consigo vencer as mensagens que recebo todo dia —, conta Elizabeth com muita alegria.


Essas atividades estão relacionadas à sexualidade, pois ela está ligada aos mais diversos aspectos da vida, como o desenvolvimento de relações pessoais, amizades e prazeres.


Pesquisa Mosaico 2.0 do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo

Socialmente a sexualidade na terceira idade, principalmente para a mulher idosa, é negada. A psicóloga Juliana Novo Coutinho explica que muitas vezes a idosa é infantilizada, pois tiram a autonomia dela e a família acredita que ela não consegue fazer nada sozinha, mas é importante perceber que ainda há sexualidade que precisa ser trabalhada. Não significa necessariamente ter uma vida sexual ativa, mas sim desenvolver relações sociais e o bem estar junto aos sentimentos e emoções. A psicóloga completa dizendo: “A menopausa se caracteriza pelo fim do ciclo reprodutivo de uma mulher, mas não é o fim da sexualidade da mulher”.


Nesse sentido, Elizabeth mantém sua vida ativa, cuidando de sua saúde mental, participando das atividades, viagens e encontro com amigos. Foi assim, com um sorriso no rosto, que ela superou a depressão e hoje, se mantém ativa, apesar de residir sozinha em Frederico Westphalen. Os preconceitos sofridos e o tabu desde sua adolescência foram diminuindo ao longo dos anos. Com seus filhos e netos buscou a criação e o diálogo de forma diferente, proporcionando a eles, o que não teve quando era jovem.


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